O
Pinhal da Azambuja, (1846)
"Este é que é o pinhal da Azambuja?
Não pode ser.
Esta, aquela antiga selva, temida quase religiosamente como um bosque
druídico! E eu que, em pequeno, nunca ouvia contar história de Pedro de
Malas-Artes, que logo, em imaginação, lhe não pusesse a cena aqui perto!...
(...) digam-me, digam-me: onde estão os arvoredos fechados, os sítios
medonhos desta espessura. Pois isto é possível, pois o pinhal da Azambuja é
isto?...
(...) Isto não pode ser! Uns poucos de pinheiros raros e enfezados, através
dos quais se estão quase vendo as vinhas e olivedos circunstantes!... É o
desapontamento mais chapado e solene que nunca tive na minha vida - uma
verdadeira logração, em boa e antiga frase portuguesa.
E contudo aqui é que devia ser, aqui é que é, geográfica e topográficamente
falando, o bem conhecido e confrontado sítio do pinhal da Azambuja...
Passaria por aqui algum Orfeu que, pelos mágicos poderes da sua lira,
levasse atrás de si as árvores deste antigo e clássico Ménalo dos salteadores
lusitanos?
Eu não sou muito difícil em admitir prodígios quando não sei explicar os
fenómenos por outro modo. O pinhal da Azambuja mudou-se.”
Almeida
Garrett (1799-1854)
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