Algum dia o poema
será a bungavília
pendente deste
muro da Calçada da Graça.
Produz uma
semente que faz esquecer os jornais, o emprego e a família,
e além disso tudo
atapeta o passeio alegrando quem passa.
Mas antes desse
dia há-de secar a bungavília
e o varredor
há-de levar as flores secas para o monturo.
Depois cairá o
muro.
E como tempo
passa
mesmo contra
vontade,
também há-de
acabar a Calçada da Graça
e o resto da
cidade.
Então, quando
nada restar, nem o pó de um sorriso
que é o mais leve
de tudo que se pode supor,
será esse o
momento de o poema ser flor,
mas já não é
preciso.
1967
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